quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A crise é problema político ou econômico?

Caros colegas,
É importante que, até o final do ano, acompanhemos como está sendo controlada a crise na Europa e Estados Unidos, pois não temos como negar a influência que uma possível recessão mais forte possa atingir nossa Bolsa de Valores e, consequentemente, infuenciar nosso resultado no final do ano. Por isso, eu estarei divulgando algumas análises sobre a situação para que os colegas fiquem bem informados e que possamos discutir alguns pontos polêmicos.

Como há uma relação de causa-efeito entre economia e política, a resposta não é trivial. Em termos epistemológicos, a Economia Política estuda como os contornos políticos influenciam a conduta dos agentes econômicos e vice-versa: como as reações destes modificam o entorno político. Montchrétien e Adam Smith utilizaram essa terminologia para explicar as relações no mercado de trabalho como centrais na geração de riqueza e competitividade das nações. É possível, assim, tirar daí reflexões para a crise na zona do euro (ZE).
A começar por notar que não há consenso sobre se a crise é econômica ou política. Questionadas pela revista Época (7/11), Eliana Cardoso diz que o problema é político e que este determina o econômico e Benedicta Marzinotto, do centro de estudos Bruegel, afirma que era econômico e passou a ser político.
Pode-se argumentar que o problema econômico causou o político. Não só porque o estopim em 2008 começou no mercado financeiro, com freio no crédito, mas também porque hoje se vê um EUA endividado, com baixo crescimento e desemprego alto e persistente. Não importa, pois, qual partido está no poder. Ele deverá perder as próximas eleições. Na Europa é até pior, pois ela ainda conta com crise soberana, desalinhamentos competitivos e nas regras fiscais e alta exposição bancária. Nesse imbróglio, Sócrates, Papandreou e Berlusconi renunciaram em Portugal, Grécia e Itália; Cowen e Zapatero perderam eleições para a oposição na Irlanda e na Espanha; e Sarkozy deve perder na França.
Também é possível dizer que o problema político gerou o econômico. Afinal, a crise de 2008 foi consequência de ações políticas (desregulamentação bancária) desde Reagan, que subestimou os riscos dos derivativos. O entorno desse cenário político incentivou os agentes a reagirem de certa maneira, culminando no estouro da bolha. Se tivesse havido vontade política, medidas poderiam ter sido tomadas com resultados econômicos distintos. E na crise da ZE, a instabilidade política tem gerado incertezas econômicas. Fala-se muito em dívidas e déficits, pois os limites do Tratado de Maastricht não foram cumpridos. Pouco se fala, porém, sobre o mercado de trabalho. Um Finlandês viveria na Grécia em 1999? E hoje?
A migração no mercado de trabalho desde a formação da ZE não ocorreu satisfatoriamente, gerando descompasso na competitividade entre seus membros. Comparando a variação dos custos unitários do trabalhador, vê-se que foi grande o ganho de competitividade da Alemanha desde 2000, tanto que ela é a maior superavitária em transações correntes. Como o câmbio é fixo, o ajuste nas contas externas dos demais passa pela redução de preços e salários dos países periféricos vis-à-vis os centrais. Mas, com uma só moeda, o processo é lento em razão da rigidez desses preços. Indicadores de produção e desemprego mostram isso. Fossem flexíveis, as variáveis reais não seriam afetadas.
Merkel, Weidmann e Draghi dizem que só os políticos resolvem a crise e rejeitavam veementemente usar o Banco Central Europeu como emprestador. Mas, em 30/11, houve atuação dos seis maiores BCs cortando juros e, em 1/12, anúncio de um novo tratado. O cenário está tão confuso que a The Economist (26/11) sugere que o euro pode acabar. Alinhamentos políticos e fiscais e atuação monetária são elementos importantes na solução de curto prazo.
Porém, se a ZE sobreviver, seguirá com problemas estruturais de longo prazo. Além da criação de uma instituição fiscal que harmonize regras fiscais e previdenciárias, o mercado de trabalho precisa ser mais discutido. Se em 1999 a mobilidade de trabalho tivesse sido alta, provavelmente agora não haveria problemas relativos à competitividade. Mas hoje seria essa total mobilidade desejada? Na tentativa de evitar a destruição do projeto de 60 anos da moeda única, pois, seria importante resgatar as leituras de outrora, uma vez que num sistema democrático a simbiose entre economia e política é um fato e a dinâmica no mercado de trabalho, uma variável relevante como parte da solução de longo prazo da crise na ZE. (Cristiane Alkmin J. Schmidt - Agência Estado)

16 comentários:

  1. Prezada Mestra
    O problema que você levanta hoje no seu blog abarca análise da dimensão de um livro. Quero apenas aportar este dado: fontes da autoridade econômica europeia declaram que o rombo dos bancos europeus alcança a dimensão de 115 bilhões de euros! Por outro lado, os políticos acham que o processo de recuperação consiste na política de contenção de gastos, sobretudo dos gastos previdenciários. Acho que existe, de fato, muito abuso nesta área social, como por exemplo, aposentadoria aos 50 anos! Mas, e os gastos militares? Quando a Europa ataca a Líbia, ela está realizando uma guerra preventiva de defesa? Há muitos outros abusos.Uma colocação de Paul Krugman,no início de seu precioso texto de Economia, calou-me profundamente: antes de adotar uma orientação econômica, a população deve esclarecer em que sociedade pretende viver Será que a Europa está renegando as grandes lições de sua elite cultural e optando pelo capitalismo selvagem, que o próprio arquiteto do capitalismo repudiou no seu livro Riqueza das Nações, e renegando o Estado do Bem Estar Social? Regrediremos a uma sociedade de conflitos?
    Edgardo Amorim Rego

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  2. D. CECILIA,

    A AAPPREVI CONSEGUIU SUPERAVIT ESTE ANO E PRETENDE APLICAR DE
    FORMA A FAVORECER SEUS ASSOCIA-
    DOS.
    O QUE PRETENDE A ANABB FAZER COM
    O LUCRO QUE OBTEM ANUALMENTE?

    OUTRA COISA:
    GOSTARIA DE SUGERIR A SENHORA PARA NÃO PUBLICAR NOTICIA SOBRE EXTINÇÃO DO BET. PRINCIPALMENTE SOB A ALEGATIVA DA CRISE MUNDIAL.

    ENTRETANTO, SE A CRISE MUNDIAL CHEGAR AO PONTO DE OBRIGAR A ANAABB OU A PREVI BAIXAR O SEU SALÁRIO, AÌ, SIM, PODE PUBLICAR QUE EU A PARABENIZAREI.

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  3. Entendo que o valor do superavit para pagamento do BET,já esta contabilmente apartado, assim como a parte do BANCO. Quanto aos europeus,(primeiro mundo), eles viveram sempre as custas(ouro,entre outros) das colonias que durante séculos "descobriam ou colonizavam"; sugaram a China, a India, Africa, Brasil e outros, e pelo jeito ,os portugueses, os espanhois,ingleses,franceses,nao souberam poupar. Acabou .Agora é hora de trabalhar.

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  4. O Cecilia, fala sério essa AAPPREVI é uma piada, a coisa mais ridícula que alguns aloprados aposentados já inventaram nesse mundo virtual. Mas, pelo menos, serve pra gente dar risadas pois o cara é mesmo muito engraçado.. Tem hora que torço mesmo pro BET acabar só pra ver a turma espernear de ódio kkkkkkk

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  5. Cecília,
    Somente queria entender um fato: sou da época onde não existiam termos antipáticos como gestão, atuarial, oitiva, meliante, etc. A bolsa subia e descia e a Previ distribuindo para todos sem distinção salários chamados de indiretos. Hoje é uma agência que não sabemos as intenções dar a notícia que vai rebaixar notas de paises e o mundo se acaba, passados alguns dias o tema muda e lá vai ela subindo. Será que teremos que viver sempre a mercê de bolsa. E como se explica também queda da bolsa e depois subida , será que disso não resulta lucro? Oh que saudade dos juros simples e de perdão pela Previ de dívidas com imobiliários(empréstimos) empréstimos para ações e até em empréstimos simples. Triste Cecília triste e ainda por cima nada podermos arranjar sobre coisas mais simples na Previ como fora o desconto pelo total do BET. Só justiça e isto sim deveria recair o ônus para os polpudos salários de executivos de nosso Brasil

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  6. Caro Domini,

    Realmente as coisas mudaram muito, porém existem as vantagens. Hoje é tudo muito mais transparente e difícil de acontecer "grandes maracutais" como aconteciam no passado. Se compararmos a legislação atual com a que tinha no passado, foi um avanço danado, mas em contrapartida, surgiram mecanismos mais complicados de investimentos e mesmo de mapeamento econômico. Fazer o quê, não é mesmo? São os ônus da modernidade... da tecnologia...

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  7. Colega Cecília,
    Pelo que tenho lido essa crise tem contornos econômicos muito fortes com componentes políticos que só servem para atrapalhar a procura de solução consensual que possa por fim a esses problemas. Agora são 15:12hs de sexta-feira, 09.12.11. O Uol registra ibovespa a 58.211,83 pontos, subindo 1,32%. Apesar de o Reino Unido não ter concordado com a proposta apresentada, imagino que o pregão de hoje da Bovespa reflita que os investidores aqui no Brasil interpretaram as medidas adotadas pelos principais países da UE como positivas. Agora só resta saber como as tais agências de risco irão avaliar o que foi alinhavado e como os mercados irão se comportar após essas avaliações.

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  8. O meio-acordo da zona do euro é uma amostra da farsa que é o sistema. A encenação gira em torno de uma dívida, que seria estratosférica. Mas afinal, QUEM SÃO OS CREDORES? ONDE ELES ESTÃO? VIVEM NOUTRO PLANETA? SE VIVEM AQUI, NÃO PAGAM IMPOSTOS. Porque se pagassem o que nós pagamos não acumulariam toda esta dinheirama. Penso que tudo não passa de um engodo, que serviu e serve para enganar incautos. E ainda tem uns que se comprazem em ficar malhando colegas e associações. Certamente estão no desfrute do renda certa e já não se sentem mais tão seguros para futuras investidas no patrimônio alheio. Que lástima!!
    Sempre ANÔNIMO, mesmo sabendo que posso ser rastreado. Mais aí, alguém vai incorrer no crime de quebra de informação sigilosa.

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  9. Cecília,
    Compreendo tudo. Antigamente as ações davam filhos que com o produto de ações do BNB finaciado pela Previ adquiri meu primeiro veículo(um fusca de 2ª mão).

    Hoje minha residencia em Nazaré foi financiada pela Previ/PHI cujo saldo devedor foi tão pequeno que de férias um colega liquidou; idem aconteceu com um apt adquirido com financiamento da PREVI.

    Várias vezes ES eram perdoados e assim sem se falar que ainda não era aposentado pois quando vinham os benefícios não havia castas e sim a Previ pensava como um todo;

    Muitos anos depois vimos o ES ser suspenso por três meses, naqueles de aperto de despesas, hoje existe o tal de E-10 que somente juros é o que vale.;

    Também vimos a não distinção de entre idosos até 59 anos e mpiseros setentões como eu onde são escorchados com taxas mais elevadas em ES, CAPEC e despojados pelo BB que somente empresta aos que ainda tem esperança de vida.

    Assim minha cara Cecília, sei que os tempos são outros que a globalização faz com que uma gripe do Obama , Chavez ou quem quer que seja faça a bolsa despencar.

    Sei que vivo hoje e somente uma coisa ainda me resta reclamar enquanto puder. Um dia este grito chega lá e de uma forma ou de outra estarei contribuindo com aqueles que vão chegando aos oprimidos setentões

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  10. Desde dos primórdios da civilização duas questões guiam as relações das pessoas, quais sejam, Poder e Fome.
    As crises economicas ou politicas anunciadas continuam tendo como base as questões de sempre Poder e Fome. Porque no Brasil, com toda a corrupção existente, desmandos, falta de justiça, não existem guerras significativas. Muito simples, o Brasil é o celeiro do mundo, se houver guerra, as plantações se perdem e aonde mais o mundo irá buscar alimentos básicos para sua população??? Então a Europa vai se ajustar, os Estados Unidos também - e continuarão por cima eis que são donos dos maiores canhões -, no Brasil vamos continuar do jeito que estamos enquanto formos os maiores produtores de grãos do mundo, e a crise quer economica ou politica vai se resolver. O grande problema ainda continua sendo a China que se continuar assolada por estiagens e outros eventos que estão acabando com suas safras e não encontrar meios de alimentar seu povo, provavelmente irá provocar a 3ª grande guerra (coloquemos aqui junto a India e demais países asiaticos - que detem a maior parte da população do planeta). A meu ver se conseguirmos superar o problema da Fome a questão do Poder se ajusta por si só, sem maiores complicações, ora um lado levando vantagem ora outro.

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  11. D. Cecília

    Pelo amor de Deus!
    Desde quando as coisas são mais transparentes e grandes maracutaias
    são mais difícies de acontecer?
    Todas as semanas caem ministros envolvidos até o pescoço nas maiores maracutaias já vistas!
    E a Previ - sem transparência alguma - poderia estar isenta deste
    tipo de gestão? O que a salva é que
    a Grande Mídia tem mais interesse nos bilhões em propaganda do BB, do
    que nas denúncias que todo os dias
    "pipocam" contra à Direção da Previ

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  12. Cara Cecília,

    Atualíssima a matéria divulgada em 07.12.2010, no site da ABRAPREV, principalmente o tópico - "dúvidas".

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  13. Prezada colega Cecília
    Falaram que se estava requentando idiotices já comprovadas. Mas, consta hoje, agora, no blog do Ari, notícia da Reuters de que o Sr. José Reinado Magalhães, Diretor de Investimento da PREVI, informou que essa EFPC está preferindo no momento vender ações, porque investtimentos em títulos públicos estão apresentando ótimos retornos.
    Edgardo Amorim Rego

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  14. D. Cecília,

    Procuro, há tempos, motivos para dar boas risadas, entretanto não encontrei ainda. Esse anônimo(a) das 10 hs do dia 09.11 disse que a AAPPREVI é uma piada e o seu presidente é um cara muito engraçado.
    Todo dia acesso o site dessa seríssima associação e lá não vejo motivos nenhum para risos. Poderia ser mais específico?

    Respeitosamente, muito obrigado.

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  15. Cara Cecília,
    acredito que não devemos menosprezar pessoas que lutam por seus direitos; independendo de que associação elas pertençam.
    Porque a luta é pelos direitos e não deveria ser entre as associações; quem os conseguir(direitos), aplausos para ela(associação}.
    São direitos humanos!"Porque a justiça perece para os que dormem", como diz certo jurista, também "a lei é abstrata, mas os problemas são reais".
    Muito obrigada!

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  16. Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o SENHOR não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.
    O correto da frase seria "o Poder Judiciario perece para os que dormem" já que a Justiça pertence a Deus e, mesmo para os que dormem, ela será feita, pois o que seria dos homens se não houvesse justiça. Já o nosso Poder Judiciario mesmo sem dormir não atende nossos anseios de justiça.

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