Caros Colegas,
Ao longo de todos esses anos em que a Previ participou de vários investimentos, em privatizações, em projetos para alavancar o país que nem sempre foram as melhores opções para o perfil da fundação. No passado foi pior, pois não havia uma legislação que servisse como uma barreira para que investimentos ruins acontecessem, porém, apesar do avanço na legislação que regem os fundos de pensão brasileiros, os maus investimentos continuam em cena. As tomadas de decisões equivocadas, as parcerias mal feitas, as negociatas e a resistência em adotar realmente uma gestão de riscos isenta e independente.
A ingerência do governo continua como antes, "tudo está como dantes, no quartel de Abrantes". Mais uma pérola na má gestão da Previ, onde a ingerência do governo tanto do PSDB quanto do PT prejudica seus retornos. É preciso saber qual será o impacto dessa estratégia no nosso plano, pois ninguém da Previ consultou os associados se concordavam ou não com esse ativo e também, com certeza, não nos consultará sobre se investe mais recursos para manter a participação ou se sai com o rabo entre as pernas. Lembra do ditado: "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come."
Além de sua importância para o
mercado e para os investidores, a fusão da companhia brasileira de
telecomunicações Oi com a Portugal Telecom, que assume a gestão da nova
empresa, tem também um significado político de grande relevância. Ela simboliza
o fracasso - mais um, entre tantos outros - da política do governo do PT de
mobilizar grande volume de recursos públicos, beneficiar grupos empresariais
privados por ele escolhidos e modificar regras e normas para formar o que vinha
chamando de empresas campeãs nacionais capazes de conquistar espaço no mercado
internacional. É mais um sonho de grandeza criado durante o governo Lula que se
desvanece na realidade da vida empresarial.
A história da Oi e de suas
antecessoras é, em boa medida, a história do ativismo e do intervencionismo
estatal no setor de telefonia muitas vezes justificados pela necessidade de
viabilizar a entrada de empresas privadas em setores antes dominados por
estatais, mas também marcados por intrigantes trocas de favores.
O leilão de concessão da Tele
Norte-Leste, que reunia operadoras de 16 Estados até então controladas pela
Telebrás, foi vencido em 1998 pelo grupo - formado, entre outras, por uma
empresa da área comercial, uma construtora de grande porte e companhias de
seguro - que ofereceu ágio de apenas 1%. Para viabilizar a operação, o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) entrou no consórcio com
significativa participação no capital, mas com a disposição de dele se retirar
assim que houvesse um investidor para assumir a sua parte.
Dez anos depois, na metade do
segundo mandato de Lula, o governo voltou a apoiar o grupo, já com o nome de
Oi, para viabilizar a compra da Brasil Telecom (BrT), com o que se formaria o
que se chamou de "supertele" brasileira, uma empresa forte
financeiramente e com capacidade técnica para operar em outros países. Seria o
que, na área de telecomunicações, o BNDES passou a chamar de empresa campeã,
cuja constituição apoiaria fortemente.
Para permitir a formação da
"supertele", além de assegurar-lhe apoio financeiro, o governo teve
de mudar o Plano Geral de Outorgas (PGO), dele eliminando a regra segundo a
qual a operadora poderia atuar em apenas uma das quatro regiões em que o País
foi dividido. Assim, a Oi tornou-se a primeira tele de alcance nacional.
Não passou despercebido, na
ocasião, o fato de que, entre os principais sócios da Oi, estava a construtora
Andrade Gutierrez, principal financiadora da campanha que levou Lula à
Presidência da República. Igualmente foi observado que a Oi tinha sido
investidora da Gamecorp, empresa especializada em produção de programas de
televisão e de jogos para celular, da qual o principal sócio era Fábio Luís
Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente da República.
Mas, em vez de se transformar
na "supertele" pretendida pelo governo, a Oi - cujos sócios
principais, desde o início, não eram do setor de telecomunicações - passou a
enfrentar dificuldades, sintetizadas na dívida de mais de R$ 29 bilhões. A soma
das dívidas da Oi e da Portugal Telecom alcança R$ 45,6 bilhões. A capacidade
de geração de recursos, expressa no conceito de Ebtida (lucro antes dos juros,
depreciações, amortizações e impostos), nos últimos 12 meses alcançou R$ 12,5
bilhões. Ou seja, a dívida é 3,64 vezes maior do que a capacidade de geração de
recursos, relação um pouco maior do que a considerada tolerável pelos analistas
financeiros (de 3,5 vezes).
O BNDES investiu cerca de R$ 18
bilhões na criação das "campeãs nacionais". Elas receberam recursos
do banco público para operações de fusão ou aquisição, inclusive no exterior.
Uma delas, a Lácteos Brasil (LBR), em regime de recuperação judicial, impôs
prejuízos estimados em R$ 700 milhões ao banco estatal. Já as ações de outras
empresas escolhidas como "campeãs" tiveram forte desvalorização desde
a entrada do BNDES. O valor de mercado da Oi, por exemplo, que alcançou R$ 13
bilhões na época da compra da BrT, chegou a cair para R$ 7 bilhões. O BNDES e
diversos fundos de pensão de estatais são acionistas da Oi.